Experiências errantes no
Pelourinho
Nayla
Leite B. de Oliveira
Salvador
é a nossa cidade. É claro que tem seus problemas, e como toda cidade não podia
ser diferente, em maior ou menor grau, mas é a nossa cidade. Devemos ter a
honra de conhece-la antes de conhecer o mundo... E não é que há vários mundos
nessa cidade?
Na
nossa primeira aula de campo, visitamos de início o museu etnográfico, que traz
em si as lembranças de um punhado de tribos indígenas do interior do país. A
Laura, guia que nos acompanhou, disse que, infelizmente, os estudos
antropológicos acerca dessas tribos, que compõem o memorial do museu, além de
doações, foram feitos por arqueólogos europeus, o que de certa forma distorce
um pouco a narrativa originária. As diferenças culturais são tantas que é um
pouco difícil de imaginar a vida desses povos sem cair em um terrível
anacronismo. Mas existe algo que nos une, assim como existe algo que também nos
uniu na nossa próxima parada, o museu Mafro.
Achei
o Mafro mais agradável, embora também tenha gostado de visitar o museu
etnográfico, que nunca tinha ido antes. As peças são belíssimas, especialmente
as espadas e a sala dos orixás. Perguntei sobre uma escultura em particular, de
uma moça de joelhos erguendo um banquinho com as duas mãos. A nossa guia nos
disse que a peça potencialmente representa o poder feminino, o poder que as
mulheres têm de sustentar toda uma comunidade com a própria força, mas as
interpretações divergem, especialmente pela posição da escultura. De todo modo,
a questão do anacronismo volta à tona. Não posso interpretar o passado de um
outro povo com esses olhos de Salvador 2018.
Contudo,
não pude deixar de notar que visitamos nossos fantasmas ancestrais. Indígenas,
africanos e de quebra ainda fomos a uma Igreja católica, que no meu entender
simbolizaria a influência europeia na formação da cultura local, uma vez que o
fenômeno do cristianismo começa a ser amplamente difundido naquele continente e
nossos colonizadores trouxeram esta influência para cá. Mas o melhor de tudo é
que visitamos nossos fantasmas ancestrais errando pela cidade! Pelo menos para
mim foi uma experiência errante, no sentido de tomar Salvador enquanto terreno
de busca pelo não planejado. Me perdi, me desorientei (pois literalmente não
conhecia aquelas ruas, mas adorei me desorientar. Quando chegamos no Glauber
Rocha, me reorientei, pois foi o único lugar que visitamos que eu costumo
aparecer com certa frequência) e me senti menos blasé...
Vamos
errar, por mais errâncias na cidade!
Que bom que você trouxe para o seu relato a discussão sobre aquela escultura. :-) Sobre as tribos indígenas, interessante notar seus nomes para especificar e não falar em "punhados"... decolonizar o pensamento é uma tarefa enorme! Seguimos!
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