Eu que particularmente gosto muito de caminhadas já esperava entusiasmado por esse passeio pelo centro histórico de Salvador. Foi minha primeira visita a museus e estava empolgado por saber que a visita se iniciaria pelo prédio da primeira faculdade de medicina da Bahia que possui não só um museu, mas dois: o MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia) e o MAFRO (Museu afro-brasileiro). Logo de início a arquitetura do local já me encantou e me levou a época onde jesuítas e seu dogmas perambulavam pelo corredores. Passei pelo frescor do jardim interno até chegar ao MAE e me deparar com utensílios, imagens e sons que fecundariam ainda mais minha imaginação sobre os magníficos povos indígenas que aqui estavam antes de todos. Fique impressionado com as urnas fúnebres feitas de barro em formato de jambo. Os utensílios da época, como filmadoras antigas e bússolas que os exploradores carregavam me fizeram imaginar-me como o próprio explorador e o seu fascínio por essas viagens ao desconhecido se aventurando pela geografia e pela cultura desses povos tão antigos. Em seguida, ainda estonteante por toda essa viagem no tempo seguimos para o MAFRO onde meu desbunde tomou proporções imensas quando me deparei com as impressionantes obras do artista Caribé representando os orixás em imensos e deslumbrantes painéis de madeira. É indescritível o que eu senti nesse passeio, mas é ainda mais indescritível o que eu senti quando visitei a última galeria que traria à tona o genocídio étnico-racial que vem sendo executado indiscriminadamente. A figura da pipa, objeto de enorme diversão para as crianças, brincadeira tão comum a minha infância, usada comumente como objeto de iniciação ao trabalho na hierarquia do trafico de drogas. Que estratégia cruel essa de atrelar uma brincadeira tão inocente ao ingresso no primeiro emprego no tráfico. A simplória pipa representa agora o parto precoce da infância pela extrema necessidade de se tornar adulto e superar esse abismo socioeconômico ao qual estamos mergulhados. Na saída, me deparo com uma roda de capoeira, ao ouvir o som do berimbau meu corpo logo se inquietou sob um magnetismo tão mágico que o meu coração passou a pulsar como se fosse o próprio atabaque batendo dentro do meu peito. Pareceu um chamado que eu realmente não poderei recusar. A capoeira é nossa, é história, é corpo, é mente, é linguagem, é filosofia, é música, é resistência, é luta, é vida! Em tempos tão violentos, ter com o que contar para se defender é algo imprescindível! Axé!
vagnEr
vagnEr

massa vagnEr. a capoeira é resistência!
ResponderExcluirque relato bonito, cheio de sonoridade! grata por partilhar conosco!
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