Tombo. Glamour. Poltronas esgotadas. Centenas de luzes coloridas acesas. Galeria. Dezenas de janelas. Vitral. Lanterna. Fila. Pipoca. Damas bem vestidas. Carros estacionados. Alguém varrendo os espaços entre as poltronas antes do próximo filme. A mini orquestra tocando atrás da tela. O operador trocando o rolo do filme. Escuro. Bilheteria. Suspiros. Gargalhadas. Infinitos comentários após a sessão. Outros prováveis finais ou continuações. Passos na calçada. O filme no sonho ou na imaginação.
Talvez o "Palácio das Maravilhas" nunca poderia imaginar a triste sorte que o destino reservaria a seus dias atuais. As coisas, paredes, teto, chão, desmancham-se desbotantes entre poeira, vazio e desinteresses. Como um enorme quebra cabeça onde cada peça fosse retirada mais depressa. O espaço se desintegra como estivesse deixando de existir ali, dando lugar ao oco, ao intervalo entre a memória e o esquecimento.
Nem o Jandaia, nem os seus ostentadores imaginariam que um dia fosse se tornar tão desinteressante. Desinteressante, porque não importa, não chama mais atenção, não é conveniente. Desinteressa, porque é isso que todos nós sentimos sobre algo ou alguém que não estimamos mais valor. Desinteressante, porque a nossa sociedade é grata e sábia demais para sobrepor histórias, enterrar memórias e lembranças sem ao menos notar a quem elas poderiam fazer falta. Desinteressante, porque importa a um grupo pequeno de pessoas, que talvez daqui a pouco tempo também o esquecerão. Desinteressa, porque é cultura e cultura não é moeda de troca nesse país, não elege político nenhum. Então, apaga-se a memória de um povo no meio de escombros fantasmagóricos amontoados desordenadamente.
Desinteressante, pois não há mais o que fazer a não ser celebrar o espectro sombrio do que foi o Jandaia. E dessa narrativa o tempo foi o mais eficaz de todos, o único que, apoiado na demência e incapacidade de alguns homens, agiu com entusiasmo e interesse. Descascando, enferrujando, corroendo madeiras, tintas, estruturas de ferro, até termos algo irrecuperável, senão na lembrança daqueles que se salvam desse crime. É que nesse mundo de @s e $s enterram-se as coisas importantes facilmente, a sangue frio, em plena avenida movimentada.
Zu Za
Que texto forte Zuza... imagens potentes como essa do quebra cabeça... Visões sugestivas para uma possível arte de projeção em sua fachada na noite do "Amigos"!
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