Mercado do Peixe, a vítima gritante do processo de gentrificação.

O Mercado do Peixe tem seus primórdios nos anos de 1950 como um tradicional mercado municipal, onde se vendia peixe, carne, frutas e verduras. Em 1980 o mercado passa por sua primeira reforma e é transferido do Largo da Mariquita para a sua localização atual. Além da mudança de local, ocorre também o seu processo de metamorfose, transformando-o as feiras do mercado em bares. Na frente, em sua parte voltada para o mar, funcionavam os bares; já na parte de trás, estavam instalados os boxes que vendiam peixes, carnes, frutas e verduras.

A princípio, os bares ficavam abertos até as 18h, porém com o crescimento da clientela que frequenta a vida noturna do bairro do Rio Vermelho, o Mercado do Peixe começou a funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana. Em 2010, já consolidado como um reduto no qual se abraçava todas as classes sociais e onde todos acabavam sua noite, o Mercado passa por mais uma reforma. As mudanças realizadas apenas melhoraram o seu aspecto físico e estético, pois os problemas estruturais e higiênicos continuaram a existir.

Com estes problemas estruturais e falta do interesse do estado em fazer melhoria - em que políticas públicas tornam-se responsabilidade da iniciativa privada - o Mercado do Peixe acabou sendo esquecido e entregue ao tempo e ao uso diário. Em 2015, sucateado, mas ainda em pleno funcionamento, o local é fechado e derrubado, demolição essa não só de concreto, mas de histórias, círculos sociais e de toda uma heterotopia que ali existia. Em 2016 ocorre a sua maior transformação: o Mercado vira Vila Caramuru, reabre o espaço com 11 “luxuosos” restaurantes, com bebidas e cardápios mais caros e com a evidente mudança de seu público-alvo.

O história do Mercado do Peixe tornou-se o maior exemplo do processo de gentrificação¹ que ocorre na cidade de Salvador. O que o Rio Vermelho sofreu é apenas uma partícula do processo de embranquecimento proposto pelo atual Prefeito, ACM Neto.

1 -  fenômeno que afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local. Tal valorização é seguida de um aumento de custos de bens e serviços, dificultando a permanência de antigos moradores de renda insuficiente para sua manutenção no local cuja realidade foi alterada.