O lugar rio vermelho

o lugar rio vermelho

 




Um lugar é diferente de um bairro, de uma cidade, de um país. Evelyn Lima em seu livro História de uma arquitetura ética: Espaços teatrais de Lina Bo Bardi (2009) define “lugar” como um espaço que possui significado. Um território imaginário que detém tamanha acepção que torna-se quase palpável. Um lugar, é o espaço construído através das vivencias de indivíduos que se apropriam, significam, crescem, morrem, aprendem e ensinam sobre um determinado sítio.


Levando em consideração todas as sutilezas que envolvem o significado dado a palavra “lugar”, escolheu-se o “lugar” Rio Vermelho para ser o objeto de estudo dos fantasmas e assombrações, e de uma posterior intervenção artística deste grupo de desbravantes acadêmicos.

O Rio Vermelho, em si, é um fantasma. Os anos que envolveram o desenvolvimento da cidade obrigaram o bairro a se refazer para atender às demandas que cabiam à capital, em cada época específica. A cidade é um ser vivo, como relata Annateresa Fabris em seu livro Fragmentos Urbanos (2000), ela permanece initerruptamente crescendo, se modificando, e empurrando, as localidades que às constituem a fazer o mesmo. O Rio Vermelho, assim, torna-se a todo momento, um novo lugar, para novas pessoas, para a eterna nova-velha cidade de Salvador.

Santos et. Al descrevem em seu livro, Caminhos das águas de Salvador (2010) que do sec. XVII até hoje, o bairro passou por transições importantes, de aldeia indígena à vila de pescadores, para bairro de veraneio até a constituição do que conhecemos hoje. Inúmeros fantasmas foram concebidos a partir das reformas, e novos adensamentos criados para comportar essas ressignificações de espaço. Todas essas mudanças contribuíram para que o Rio Vermelho se consolidasse como a personificação de um bairro fantasmagórico. Suas assombrações históricas, entremeiam as ruas e contam histórias desconhecidas sobre esse “lugar” para tantas pessoas.   

Durante todo o texto, falamos de passado. Pois, pensamos em fantasmas como aquilo que já existiu, que já passou. Que não ocupa mas esse tempo atual. Mas fantasmas também não poderiam ser algo projetado? O que vai vir, o que não existe, mas que pode vir a ser? A lei da relatividade de Einstein, trata o tempo e o espaço como relativos, que dependem do ponto de vista do observador. Assim como o “lugar” é constituído por um ponto de vistas, ou vários, a temporalidade depende de relações muito mais complexas que a cronologia histórica.

Tentar encontrar um ponto específico, dentro dessa história de refazer-se é algo extremamente complexo. O grupo, decidiu então, perguntar, aos sujeitos que fazem do Rio Vermelho um “lugar”, quais são as assombrações mais eloquentes deste território. E quem seriam essas pessoas? São os frequentadores assíduos dos bares, dos restaurantes e empreendimentos culturais. São os andarilhos, artistas de rua. Os comerciantes dos grandes empreendimentos e os ambulantes fixos, os funcionários destes comércios e os policiais responsáveis pela segurança.

Entendendo todas as virtudes que as inúmeras possibilidades de abordar um mesmo tema permite, o grupo estipulou que o fantasma a ser estudado (e é importante ressaltar, a ser descoberto, pois ainda o procuramos) seria um fantasma que vai existir. Para tal, as perguntas a serem direcionadas aos indivíduos que serão entrevistados e que nos darão a luz para entender qual a assombração (ou assombrações) do Rio Vermelho devemos nos aprofundar (entendendo que o próprio Rio Vermelho possui camadas de Fantasmas soterrados nas inúmeras reformas a que foi submetido). Foram questões criadas com o intuito de conhecer o que o sujeito percebe do bairro hoje, como ele o afeta, o trata, e quais as projeções futuras estes indivíduos têm para o bairro, se é que tem alguma.

A entrevista deve ser gerenciada de modo informal, como uma conversa, para que as pessoas entrevistadas sintam-se a vontade em falar deliberadamente sobre o bairro e sobre suas expectativas. As falas serão analisadas buscando pontos de consonâncias ou de diferenças gritantes entre si, e assim, através da leitura das respostas e reações, será traçado a construção de um material visual que será projetado em algum ponto do Rio Vermelho a ser definido (inicialmente a igreja do largo de Santana, a personificação de um dos fantasmas do Rio Vermelho).


Pretende-se, a partir dessa iniciativa, desencavar alguns dos fantasmas do passado que pairam pelo bairro, e projetar os fantasmas futuros que ainda irão nascer

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